Post processo
- mnm202cg1
- 3 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
É difícil refletir sobre o processo do Móbile na Metrópole, quando não tivemos nem Móbile propriamente e muito menos metrópole. Essa é uma tentativa de pensar em retrospecto o que foi esse projeto e o que ele significou nas nossas vidas durante 2020 e durante a pandemia.
Seria mentira dizer que as coisas só começaram a ficar diferentes quando começou o isolamento, em março, porque na verdade foi bem antes: quando liberaram as salas do ano e nós quatro caímos juntos, porém separados de todos os nossos amigos. O grupo nunca foi uma dúvida e acredito que desde o primeiro dia de aula já tínhamos um grupo no Whatsapp fazendo votos de que, independente do que acontecesse, iríamos tentar fazer aquilo dar certo. É claro que, dada a situação de caos instaurada na nossa sala, o 2ºC, devido a formação dos grupos do Móbile na Metrópole, foi bem mais complexo do que acreditávamos que seria. Mas no final das contas, tudo deu certo, como sempre dá.
Acredito que se falassem com o Arthur, Laura, Luana e Matheus de março eles nunca sequer cogitariam os altos e baixos que iam passar pelos próximos meses, fosse a mudança de tema ou a chegada de uma nova integrante no segundo semestre. Tudo isso aconteceu, no entanto. Nosso tema inicial dizia a respeito das tentativas de suícidio no metrô de São Paulo e depois de diálogos com tanto a coordenação como a que viria se tornar a nossa orientadora, a Teresa, acabamos decidindo que falar sobre isso - mesmo que importantíssimo e necessário - acabava por se tornar delicado e por vezes pessoal demais para que tivéssemos responsabilidade e emocional para lidar.
Foi depois da conversa com a Marina, do Estúdio Crua, que finalmente nossos olhos foram abertos para um novo tema que estava embaixo do nariz o tempo todo: a arte no metrô. O ambiente se mantinha o mesmo e acreditávamos que conseguiríamos ser capazes de tanto problematizá-lo, bem como dar um olhar mais sensível e poético, justamente por a arte ser algo com que nós quatro tínhamos uma relação intrínseca.
Seguimos em um trabalho de pesquisa e orientação com a Teresa, a quem temos muito a agradecer - muito mais do que conseguimos colocar nesse texto -, até finalmente encaminharmos para a proposta do primeiro semestre: o vídeo argumento. O vídeo argumento consistia na apresentação do nosso tema e do nosso projeto, os caminhos que pretendíamos seguir nos meses à frente e para a sua realização, contamos novamente com a ajuda do Estúdio Crua e da Marina, que nos apresentou ao MC Mustache, artista metroviário que fez parte de nosso trabalho até o documentário final.
Sendo honestos, apesar do trabalho que tivemos com vídeo argumento, foi uma das partes que mais funcionamos, dividindo tarefas - Luana na edição, Matheus nas entrevistas, Laura e Arthur no roteiro, essencialmente - e às vezes trabalhamos juntos em ligação, e nos divertimos fazendo. Acreditamos que isso chega quase a ser palpável no produto, que mesmo falando sobre a arte no metrô, reflete quem somos como grupo.
Desde o começo do segundo semestre, portanto, ouvimos da nossa orientadora que nós já estávamos muito encaminhados e com o documentário em mãos, por assim dizer. Isso não significa, no entanto, que as coisas foram mais fáceis. Muito pelo contrário, na realidade. Por motivos pessoais, pela perda de esperança de voltar para a escola esse ano e pelo cansaço motivado pelas aulas e provas, quase nunca conseguíamos ter cabeça para pensar no MNM ou sequer para conversar um com os outros. Antes que pudéssemos nos dar conta do que estávamos fazendo, já estávamos no olho do furacão e envolvidos, sem nenhuma intenção, no movimento que queria o adiamento e cancelamento do Móbile na Metrópole.
O adiamento foi necessário para nós e temos certeza que, sem ele, não teríamos entregue um trabalho pessoal e feito de coração e boa vontade. Mas nunca quisemos o cancelamento; o Móbile na Metrópole foi o jeito que encontramos de expressar nossas emoções e de ficar unidos nesse período em que estamos distantes. Somos gratos a ele por isso.
Nesse meio tempo, recebemos a Sofia, aluna recém chegada na Móbile, em nosso grupo. Embora tenhamos passado um pouquíssimo de tempo com ela, sabemos que ela foi uma peça fundamental e que tornou todo o projeto mais especial do que ele já era.
Entregamos o documentário final num domingo à noite, depois de uma semana de correria, noites mal dormidas e muita ansiedade. Quando a Luana, a nossa editora, informou no grupo que tinha enviado, fomos cobertos por um sentimento agridoce: gratidão, é claro, por termos conseguido feito algo que tínhamos orgulho por, alívio por saber que tinha acabado e tristeza por ter sido assim, por termos perdido tudo que perdemos e por não termos mais essa parte importante do 2 ano do Ensino Médio.
Terminamos citando um poema Memória do Carlos Drummond de Andrade que diz “Mas coisas findas, / muito mais que as lindas, / essas ficarão” pois ele sintetiza tudo que estamos sentindo agora. Que por mais complicado que tenha sido, o Móbile na Metrópole ficará com a gente. Que por ele não durar para sempre, temos a possibilidade de nos agarrar na lembrança desse curto, porém incrível, período das nossas vidas.
No vídeo falamos mais um pouco sobre o processo e como ele nos afetou e ainda afeta pessoalmente.
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